O que você acha da música brasileira?

O que você acha da música brasileira?
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O que você acha da música brasileira?

Um leitor trouxe a questão de certo esperando a deflagração de algum ódio ou movimento discriminatório que poderia habitar esse pesquisador que vos escreve diariamente. O que você acha da música brasileira é uma pergunta ampla demais para ser respondida em poucas linhas!

Eu considero a música brasileira (e não só eu, o mundo ocidental) como a maior representação artística da brasilidade. A música brasileira é um panteão ao que representa a ampla miscigenação da existência da nação Brasil!

Heitor Villa-Lobos para diversos pesquisadores reconhecidos internacionalmente, quase todos estrangeiros, está entre os cinco principais compositores do século XX.

Antônio Carlos Gomes para os operistas, quase uma seita dentro da música escrita (aquilo que chamamos de erudita, pros mais leigos música clássica), é tido como um dos principais compositores do gênero da história da música, e está entre os três mais citados da ópera do século XIX.

Gilberto Mendes é tido como um dos principais vanguardistas do mundo! Ele, um compositor que tive o privilégio de conhecer, e que faleceu em 2016.

Mas você queria falar de música popular, correto?

Aí piora, porque especialmente, como pesquisador, considero que a música brasileira nasça de fato a partir de Pixinguinha. No início do século XX, com o advento da música fonográfica, Pixinguinha se destacou sintetizando o pensamento de grandes mestres que foram precursores como Domingos Caldas Barbosa (no século XVIII), Joaquim Antônio da Silva Callado, Chiquinha Gonzaga e Ernesto Nazareth (no século XIX).

Pontualmente existem confirmações de brasilidade em Callado, Gonzaga ou Nazareth – , no entanto, esses compositores alternam suas obras com construções musicais típicas da música barroca. E até mesmo quando acertam a brasilidade utilizam de recursos técnicos e formais da música barroca. Quase a totalidade que produziu Pixinguinha é música brasileira, de fato. Sem que se apare uma aresta, sem que se crave ecos estrangeiros.

Ah mas você queria falar de música mais moderna?

Entendo, embora moderno não seria um bom termo, você queria mesmo era discutir a música que lhe é contemporânea?

Pode ser! Por que depois de Pixinguinha teríamos que passar por Ary Barroso, o primeiro maestro soberano, dezenas de grandes intérpretes e instrumentistas, Francisco Alves, Garoto, Waldir de Azevedo e Jacob do Bandolim? Dorival Caymmi, Lamartine Babo e Catulo. E chegar na década de 1940 dos grandes arranjadores, Luiz Gonzaga, a renovação da música popular com um Brasil Plural, passar pela Bossa-Nova, e a geração que funda a MPB.

Ou você queria mesmo era falar do FUNK?

Funk é uma excelente música rítmica, proveniente do batuque do maculelê e da dança do jongo, eletrificada, e que ganhou status de música eletrônica brasileira internacionalmente. Música para ser dançada. Agora pergunto: O funk cumpre sua função?

Qual o problema com ele então? Já sei, a letra? A inexistência de harmonia? A inexistência de uma melodia cantábile?

Já adianto que a música dos africanos que para cá vieram, tem canto e ritmo, normalmente em tambores.

Ser cantábile é um fator irrelevante para a construção de um tipo de música que possui lastro histórico e matriz cultural facilmente identificável. Pense a música como algo que se movimenta! Avalie que podemos estar discutindo mais que gosto, podemos estar discutindo seu preconceito racial!

Por que uma letra de funk que fala coisas ruins? Do que um garoto compositor, por vezes, de quinze anos, que faz FUNK CARIOCA quer fazer da vida dele? Por que isso te incomoda?

Custo a entender por que Garota de Ipanema seja por esse viés uma composição melhor! É por que que escolhe palavras mais bonitas para lidar com o mesmo assunto? Lembre que a grosso modo a menina que era a Garota de Ipanema, tinha na época seus quinze anos, e o compositor que fez a letra era um tiozão no alto de seus cinquenta anos. Vamos entender amigos que pedofilia é crime!

E Garota de Ipanema segue um clássico, e que o FUNK tem muito valor cultural. Não confunda a função da música com gosto, e menos ainda gosto com preconceito racial.

Eu acho que a música brasileira é uma das mais ricas e prolíferas da história do mercado fonográfico!

Plagiando Celso Viáfora e Vicente Barreto: “Quem vê do Vidigal o mar e as ilhas ou quem das ilhas vê o Vidigal?”. Onde está você nesse mapa?

Tem curso que discute isso? Sim! Composição: Letra e Música!

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João Marcondes é compositor, arranjador, produtor musical e um dos maiores educadores musicais do Brasil. Possui mais de cinquenta livros lançados, metodologias completas, e cursos aprovados no MEC e Secretaria da Educação. É gestor educacional e empreendedor. Tem mais de mil artigos publicados falando sobre música. E aqui, no Blog Souza Lima mais de dez milhões de leituras em seus textos.