Tocar com artista conhecido paga mal para o músico?

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Tocar com artista conhecido paga mal para o músico?

Tocar com artista conhecida paga mal é um dos assuntos que recentemente inundaram minhas redes sociais. Curioso caso, é verdade, mas onde está o fato, onde está a falácia?

Existe instituição que represente a classe dos músicos, sigla OMB, a Ordem dos Músicos do Brasil, então o problema com cachê não deveria ocorrer.

Na OMB um cachê para um show está perto de dois mil reais. Longe, evidentemente do que se observa na prática.

Em dezembro do ano passado, eu que estou fora dessa parte da indústria fonográfica já faz um tempo, fiz uma substituição para um instrumentista de um grupo que já dominou a indústria fonográfica brasileira. O cachê proposto foi de 300 reais.

Conversando com os músicos contratados do grupo, todos recebiam 250 reais por apresentação. Em um mês com vinte apresentações tiravam cinco mil reais, o que hoje no Brasil é considerado um bom salário.

Eu não aceitei, e como era de última hora acabaram por me pagar cerca de 800 reais. Aí está o ponto: cachês são negociáveis. Não há fiscalização da OMB, então o mercado define livremente, ou o melhor o artista decide quanto pagar, e o músico decide se aceita o cachê.

Como a classe dos músicos permanece desunida, se você não aceita, outro músico aceita, pronto – os cachês se nivelam por baixo.

Nos anos 2000 eu fazia parte da banda do sudeste de um grupo de Axé Music, e o cachê era quatrocentos reais. Quando o poder aquisitivo desse valor era muito maior. Soube recentemente que a banda segue pagando o mesmo cachê.

Feito, desunião da classe, falta de fiscalização, isso tudo faz com os cachês sejam livres, e um artista que cobra cachês de cinquenta mil paguem trezentos reais, e artista que tem cachês de quinhentos mil paguem perto disso também. Complicado.

Como condenar os músicos que vão? Precisamos trabalhar, esse é o ponto.

Um dono de bar levanta dois mil de couvert artístico e foge para pagar a integralidade do dinheiro, faz acrobacias para dizer que muitos não pagaram o couvert, e acaba por pagar menos da metade para o músico. Cotidiano.

Eu, por exemplo, me recuso a tocar em uma casa de jazz aqui em São Paulo que lota a casa e paga cachê fixo para o músico. Duzentas pessoas rotacionando em um couvert de 40 reais, dá oito mil reais, e paga pra banda de cinco músicos 300 reais. Agora, por vergonha a casa chama de entrada não mais de couvert.

O músico reclama, o dono do estabelecimento não liga, sabe que tem outros que fariam o mesmo serviço sem pestanejar. É assim na base, porque seria diferente no topo da pirâmide?

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João Marcondes é compositor, arranjador, produtor musical e um dos maiores educadores musicais do Brasil. Possui mais de cinquenta livros lançados, metodologias completas, e cursos aprovados no MEC e Secretaria da Educação. É gestor educacional e empreendedor. Tem mais de mil artigos publicados falando sobre música. E aqui, no Blog Souza Lima mais de dez milhões de leituras em seus textos.